Thursday 25 June 2009

devaneios


AGORA

Sou mais um alguém.
Sou teus amigos no cinema.
Sou um conto, um filme, um soneto.
Sou o primo que você não conversa há meses.
Sou o amigo que não te conta suas preocupações e segredos.
Sou o estranho que passa na rua e que você nunca chegará a conhecer.
Sou o que te observa, mas você não nota.
Sou a árvore que cai no meio da floresta e ninguém ouve.
Sou só com a solidão.
Sou só com a multidão.
Sou todas as oportunidades que você não aproveitou.
Sou a prova de que o mundo ainda pode te surpreender.
Sou a prova de que o mundo não tem nada de novo pra oferecer.
Sou a tua música favorita que você nunca ouvirá.
Sou conseqüência de tudo que há.
Sou parte do tudo.
Sou nada e descartável.
Sou o que muda e o que é mudado.
Sou o preguiçoso.
Sou o que experimenta pra te contar.
Sou o que fala e você não acredita.
Sou o que narra coisas que você nunca terá coragem de tentar.
Sou aquele seu amigo que não sabe pra onde ir. Perdido.
Sou aquele seu amigo que se orgulha do próprio saber.
Sou o aventureiro que não tem medo de morrer.
Sou aquele com os pontos de vista que você não aceita.
Mas que não consegue discordar.
Sou o amigo do amigo que ficou louco.
Sou o que suga. Sou o que doa.
Sou o que ri. E chora. E ri de chorar. E chora de rir.
Sou o que explora. O que se constrói. O que se destrói.
O que se constrói, destruindo.
Sou o que magôa sem sentir culpa.
Sou aspirante a água mole.
Sou pedra dura.
Sou o que fala.
Sou o silêncio da compreensão.
Sou o escritor que aceita tuas críticas, mas que não vai mudar seu estilo.
Sou o artista que sabe que tua crítica atesta tua própria incompetência em criar.
Sou o calmo avô que nunca vai apontar os defeitos que você ja sabe ter.
Sou o robô defeituoso.
Sem fim ou objetivo.
Programado com interrogações.
Sou o explorador de realidades.
Sou o personagem do livro que quer passar por todo lugar.
Sou o que não está aqui. Sou o que não está no teu futuro.
Sou o que acumula, filtra e destila.
Sou bruxo criador de poções. Poções do pensar.
Sou o que sente tudo que você não vai sentir.
Sou o que não pode seguir em frente. O que não pode voltar.
Sou aquele tio que se mostra demasiadamente orgulhoso de todas as conquistas que você sabe serem pequenas.
Sou o sábio tio que sabe que a vida é feita de pequenas conquistas.
Sou o pai que quer te ajudar a crescer, mas que não quer impôr suas expectativas.
Sou o professor que deseja que você o supere.
Sou o bêbado jogado na sarjeta ao amanhecer do dia quando você volta de uma festa.
Sou o namorado que sabe não ser a pessoa certa pra você.
Sou o mendigo que possue a sabedoria nos olhos, mas que está preso em seus próprios vicios.
Sou o gato que sabe que você não precisa dele e que ele não precisa de você.
Sou o cachorro que gosta de estar perto de você e que presume que você também queira estar perto dele.
Sou a mãe que não consegue ver os defeitos do próprio filho.
Sou o ciclista atropelado por um ônibus.
Sou o ator coadjuvante em um filme sem moral da história.
Sou você.
Sou ninguém.

3 comments:

  1. este teu texto me deu medo e insegurança. conhecemos as pessoas sem conhece-las, e isto é um fato.


    eu já tinha visto esta imagem em uma revista, se não me engano. interessante, estou pensando em quem sabe publicar no meu 'jornal pessoal'.
    queria mais informações sobre.. se puder!:D

    http://paulasouzzajournal.blogspot.com/
    me acompanha lá também :D

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  2. ah, quero ver :)
    pesquisei sobre ele hoje.

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  3. a vida é dura só pra quem é mole! haha beijo

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